terça-feira, 27 de julho de 2010


Não conseguimos nos escutar,
nossos ouvidos não sustentaram a canção
Nossos olhos secaram antes de alcançar o longe
Só se fez escuridão por trás dos montes de sal
Nossas pernas não conseguem se levantar,
correr atrás de nuvens é impossível
Tudo parece tão longe agora e tão veloz
Perdeu-se a graça quando nossas vestes deixaram as cores de lado
O tempo mudou todo o passado em que existimos
O controle se perdeu pois não havia mais risos
Covardes bocas nossas,
silenciadas por falsas vozes
Só as máscaras continuaram presas na parede
Não conseguimos sentir nem uma brisa mais
as folhas secaram antes do outono
Como ficou negro o amor ao virarmos os rostos.

Por que você está me olhando?
Estou morto há tempos,
morri com um sorriso no rosto,
a bala nem teve peso ao me tocar,
sua arma disparou direto em meu peito
meu coração acelerou e parou
lenta morte num sábado alegre.
Mas quebrou o que já havia se quebrado
nem havia mais como colar
nem com o tempo, nem com as baladas.
Meu corpo petrificado no fundo do mar
e no fundo do baú as chagas das minhas mãos.
E teus olhos continuam a contemplar
os poucos raios de sol que entram
e acordam as frestas da casa amarela
onde repouso suave, teso e translúcido.
Nada mais há para observar,
pois a paisagem foi engolida
por sombras de mal estar
e agora só restou um pedaço
de realidade turva e um desejo
para que a noite chegue logo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010


Tudo que me importa

é não importa-me mais

nem com o som das horas

nem com meus próprios ais.

sexta-feira, 9 de julho de 2010


Minha alma caminhava pelo deserto

lenta e docemente sentindo as areias do tempo

mas você apareceu como oásis para mim.

Quando vi teus olhos desafiei a gravidade,

minhas mãos seguravam nuvens

meus joelhos entorpeceram pelos chãos.

Ao meu redor o mundo se fez em som

luzes de caleidosópio cintalavam por ti

e eu só via sua silueta em vindo em mim.

Nada mais se tornara importante

nada mais vagava solto

nada mais necessitava de sombras.

Mas eu ainda estava ali parado,

ansioso por lábios vermelhos e quentes,

que se mantinham molhados, mas distantes de mim.

sábado, 3 de julho de 2010


Nuvens de fumaça

a música avançando

corpos de olhos opacos se entreolham.

Nada é visível além do palmo,

tudo é topor absoluto.

Não há diferenças

entre o sonho e a fantasia.

Tudo é máscara:

o grande baile.

A noite tem seu fim,

mas nunca amanhece

dentro deles.


Meus olhos já perderam a vida no meio da fumaça.

Já não encontro solo para tocar com meus pés inchados.

Tudo ruiu em mim: nem o pó, nem as estrelas me quiseram.

Tornei-me anjo caído e sepultaram-me em alto mar.

Nada restou do amanhecer, a não ser o som do trovão.

Mas nada disso já importa, só a trilha deixada pra trás.

Siga-a, talvez assim você possa ser o pôr-do-sol.