Eu fugiria com você,
sem pensar aonde o sol vai se pôr,
se haverá lua e estrelas,
se fará inverno ou não,
se as ondas do mar voltaram,
se as luzes da cidade estariam acesas.
Eu fugiria com você,
mesmo sem saber
que não há mais tempo,
mesmo se o amanhã não acontecer,
mesmo se o mundo não permitir,
mesmo que nossas mãos estejam atadas.
Eu fugiria com você,
sem olhar pra trás,
sem pensar em nada mais,
sem nem arrumar as malas.
Eu fugiria com você,
apesar do tempo ruim,
apesar do que deixaremos para trás.
Eu fugiria com você,
para qualquer lugar em paz.
Eu fugiria com você
e com ninguém mais.

A tua pele de sol,
teu desejo de mar,
o olhar de criança,
o sorriso que dá,
me percorre inteiro
e me deixa sem ar.
Teus braços de lã,
tua boca de néctar,
tua febre terçã,
tuas pernas no ar,
me envolvem com força
e me permite te amar.
O coração a bater,
a respiração a segurar,
o corpo a incendiar,
as pernas a bambear,
isso tudo acontecendo
só por eu te amar.

Tudo que digo a você é mentira,
pois estou sempre usando meu disfarce
nesse inverno rigoroso que nos separou.
Tudo que sobrou foram as fotografias
opacas e sem foco fixo
que nos revelaram daqui a dez anos.
Toda memória ficou desconexa
quando o toque se tornou áspero
durante o pôr-do-sol.
Agora já é noite longa chuvosa
e só existem cobertas desbotadas
onde secam as pequenas flores
que perderam seu perfume.