quinta-feira, 31 de agosto de 2017


Eu não vou dar ao teu corpo o direito de reclamar
Das poucas vezes que me ausentei por tua própria causa
E nem deixarei que façam nada para me afastar ainda mais
Porque a música que emana deste encontro enrubesce os demais
E deixe que os outros façam o que quiserem sobre nós
Não me importa as geleiras que eles derretem
Nem o sol que eles produzem para queimar nossos olhos
Só quero rodopiar teu corpo pela relva molhada
E que eles gritem todas as palavras violentas
E que cerem os punhos sobre os jornais velhos
Deixa somente que eu crave meus dentes na sua carne
E que eles sejam os vociferadores da própria sujeira
Nos dando adjetivos que eles sempre usaram para se esconder
E que saboreiem os deleites da inveja luxuriante
Enquanto nossos corpos se mesclam vorazmente
Podem cuspir fora nosso dentes e unhas
E quebrarem todos nossos ossos já deformados
Porque nós estaremos gozando sobre o corpo um do outro
Deitados na bandeira coberta do sangue da luta diária.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017


Todos com os olhos fechados
Fingindo não ver sua própria execução
E a mulher de preto
Costura sua face de volta
Filmes de guerra passando
Com pássaros de bico roxos
Marcha de bons homens
Com sangue sagrado nas mãos
As camas todas arrumadas
Para as cinzas se deitarem
Um grito ecoando pelo ar
a dor da liberdade que não vai chegar

sábado, 12 de agosto de 2017


O mundo é grande e não está brincando
E as massas estão chorando
Políticos de evaporadas emoções
Viúvas parindo dores fora do tempo
Cada um vivendo correntes de pedra
E a máquina construindo horrores
Tempo vermelho escorrendo pelas valas
Homens cortando seus próprios pés
Signos mandando em nossos sonhos
Dois buracos em nossos olhos
Os cheiros das casas de bonecas incadem as ruas
Fetos crescidos em granjas brancas
Cruzes que estancam os batimentos
Deuses que vendem seus súditos
Cinzas que caminham para o espaço
Só falta duas doses de cicuta.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017


Tudo que em mim é mais amargo
Vira sangue, éter e álcool
Dissolvido pela noite áspera
Que carrego dentro de mim
E as vezes tudo fica muito pesado
Nem meus ombros tortos
E nem minha boca fechada
Suportam o peso do ser
Nada sobra para ser dividido
Já se foi aquilo que se vê
Algumas coisas que se tocam
E outras que nunca ouvi
Quase nada é lixo encardido
Memórias da velhice
O coração roto
E a perda dos dias.