quinta-feira, 30 de abril de 2020

De tantas maneiras repetidas
O tempo se adiantou no instante
Cruzou a linha de chegada
Foi se apropriando do meu envelhecer
Uma canção da temporada final
Misturada com o escovar de dentes
Papéis e jornais ainda circulando
Como era o mundo quando rodopiava
as portas todas fechadas na manhã
A faca que já beijou o pescoço
Esqueceu o roncar da barriga vazia
A rede das seguras ilusões
Capturava borboletas em pleno vôo
Sempre existiu uma contra mão
Não respire a fumaça dizia na estação
Agora chegou a hora de virar a ampulheta
Deixar as memórias terem sua história
Minha idade chegou em mim
Meu ato solitário de amor.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

A linha do trem nos separa
Mas não é ela que nos mantém distantes
Cada qual com seu lado escuro
Meu sangue corre nas veias
E também corre em suas mãos
Corpos se balançam em árvores
E você passa rindo de mim
Todo meu suor te dou
Todo seu medo recaí em mim
Amordaçaram minha voz
E a sua ecoa pelas minhas costas
Me aprisionaram por vil metal
Você servindo banquetes de mim
Tentaram cortar minhas raízes
Você dançava livremente
O sol me iluminava a face
O mesmo sol te amargava o olhar
Eu resisti pelo tempo
Você nunca teve a cabeça erguida
Eu me vi livre nas canções
Você ainda me deseja a teus pés




quinta-feira, 9 de abril de 2020

O que se perde no buraco da parede
O que se esconde no canto do pássaro
O que se deixa nas migalhas do pão
O que se põem no escuro da noite
Eu, você, nós, aquele que dorme

Por que não suportamos tanta felicidade
Por que nunca deixamos o prato vazio
Por que se partem todas as ilusões
Por que nunca se nasce no ontem
Pela angústia, pela vela, pela manhã, pelo véu

Quando se abre, o que sobra
Quando a estrada reta acaba
Quando chega o aguardado inverno
Quando choram todas as nuvens
Vastidão, solidão, despedida, rosto molhado.