domingo, 31 de outubro de 2010


Saturno com seus anéis
nenhum cabe em meus dedos
mas uma valsa toca
só pra mim, até o seu final
a névoa não me consola mais
ilusões cansadas do meu ópio
personagem de mim mesmo
venho a tona e me afogo
percebo que não há estrada
vácuo de escuridão
milhas e milhas de interrogação
gosto de sal e limão
confusão ou interpretação
tudo se esvai na escrita
jasmim sem botão
o olho do furacão
tudo que vejo é distração
as respostas foram em vão
tudo sombreia minha imensidão
esqueço de tudo depois do som
sobrou só em mim dois tons.

sábado, 30 de outubro de 2010


Tão distante da perfeição
a visão se turva diante
manequim da modernidade
numa rapidez sem dó
de desencantados valores
a lente que enfoca
lhe confere status
de futilidade transpirante
você mesmo é o observador
da suas próprias falsas verdades
acabou-se a diversidade
nossos umbigos aumentaram
seu centro gravitacional
e lá embaixo nada muda
só mudamos os olhos de lugar
se fecharmos as pernas
ficamos cegos.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010


Não sei seu nome
mas nem precisaria saber
já que não tem sombra alguma
e nem odor que traduza
agora se foram os botões
espalhando-se pelo solo vermelho
secando tudo que tocavam
deixando a boca fechada
meu rosto nublado
só enxerga um tom sem cor
que treme com a chegada da luz
arrancar os olhos é uma opção
circular pela escuridão
é fuga lacerante ineficaz
mas é a salvação sepulcral.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010


Partia assim sem direção
não era o vento que levava
nem saberia como chegar tão longe
mas um estalo se fazia nos ossos
sem que mesmo fosse percebido
era mágica dança pulverizadora
passava por entre rosas e almas
era fortemente frágil no seu contorno
mas tenso e vibrante em seu seio
refletia em cada gota que caia
mas também se vestia em ilusão
noutras contrariava qualquer razão
gelava as palmas das mãos
ficava pálida ao som de um não
asas não portava não
mas voava para bem perto dos olhos
por vezes ficava em escombros
as vezes enganava sem sofreguidão
mas deixava rubra a pele
queimava sexos sem preocupação
mas quando se ia embora
ficava no seu lugar somente
uma doce lembrança dolorida.

terça-feira, 19 de outubro de 2010


Doce ilusão de fel sabor
palavras que lhe enchem os olhos
tons e sons de anjo
caídos num mar sem ondas
toques e carinhos sem pele
nenhum lábio molhado
somente tesa a tirania
e as pernas falam mais alto.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Acordei e não te vi ao meu lado
teria sido bom se não fosse só um sonho
pedaços de mim espalhados pelo colchão
e na janela um vidro se quebrou
não quero mais me levantar
o chão está tão frio quanto eu
o mundo todo está parado
a muito tempo se foi meu pão
teria sido mais simples a morte
mas me esqueci de fechar os olhos
não posso mais olhar pra trás
pois as lembranças ainda estão lá
então eu me calo por hora
nada mais vai me trazer de volta
meu coração permanecerá quebrado
e tudo vale como uns trocados
aperto meu peito em vão
minhas mãos não escorrem mais
meu corpo foi encontrado pela medusa
só o vento insiste em me visitar
trazendo cheiro de um perfume vencido
me cubro com pétalas secas
não há nada mais pra me vestir
estou aqui despido pra ti
seja você quem for a me ouvir
mas saiba ainda perante tudo
meu navio não irá zarpar
estou ilhado num eclipse lunar.

domingo, 3 de outubro de 2010


Podem ficar na frente
passarei assim mesmo
como pedra em avalanche
não me importa se vai doer
se terão cicatrizes
se depois irão se ajoelhar
se eu olharei pra trás
o sinal estava aberto
mesmo quando eu enxergava
o mundo em rubro
agora já se foram os cristais
minha luz branca espera
densidade de pulso fechado
partindo meus olhos
silenciosos ardis noturnos
valham-me todas as estrelas
o céu agora será o meu lugar.