sexta-feira, 26 de novembro de 2010


O cenário se abre enfumaçado
nenhum pulso cortado
olhos semi abertos se entreveem
pedaços de paraíso brancos pelos bolsos
esquinas de vertigem, ilusão de ótica
nuvens de alumínio pairando sobre os carros
deus está em festa hoje
sapos saltam pelos corredores da escola
bolhas de sabão iluminam o céu
penumbras dançam solitárias
e os sonhos observam seus passos
as portas permanecem abertas
esperando pelo cheiro do mar
só quem entra é náusea das flores
junto ao odor das prostitutas em transe
e a carne padece de leve
calmamente enrolada em papel jornal
mas as moscas ficam de longe
pois não suportam o sabor do sal.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010


Escondo-me atrás de máscara
mas o que será que escondo?
Que meias verdades são estas
que fogem da luz do dia
escondendo nas esquinas do olhar?
Por que a luz incomoda tanto assim?
É ela que cria as sombras cinzas.
Esforço-me sempre ao andar,
desviando de qualquer atenção,
de todos os sons e pupilas dilatadas.
Mas mãos tortas tentam me segurar
me puxam para fora de mim
me acumulam de mais máscaras.
Mesmo quando me livro de todas
ainda sempre restará uma
porque nunca revelamos o todo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010


Ainda há tempo de ir ver as planícies
mesmo com seus buracos de bombas
e cores que perderam o frio
e a patrulha não chegará perto de mim
me vesti de mil cores de dor
e sei muito bem esconder meu sorriso
entre o amarelo e o rubro do céu
meu rosto pálido é como máscara
só assim para caminhar entre vós
sempre com a cabeça baixa
e o cheiro de insetos mortos
invadindo minhas narinas
não justifica nenhum dos meus atos
somente um resto de perfume barato
pode representar ao que vim fazer
vender minha alma e a sua
por qualquer trocado de prazer.

domingo, 7 de novembro de 2010


Meu paletó roto e empoeirado
traz em seus bolsos pequenas peças
um anel, fósforos e um botão
pois era só isso que cabia em minha mão
minhas amizades e amores
foram guardadas num disco escuro
não surgiram nuvens e cigarras
fez-se lágrimas em torno de mim
mas as poças eram vermelhas
ardentes, dolorosas e vibrantes
meus pés contraídos e rachados
ainda seguiam o horizonte
mesmo este se perdendo ao longe
mas eu já me perdera antes
sob o sol que se deita a noite.

terça-feira, 2 de novembro de 2010


Sinta a palma da mão, a emoção
sinta o coração, é a música preenchendo o salão
tirei meus pés do chão quando te vi
sai cantando entre as batidas do meu coração
o bloco passou e você ali
era pleno carnaval, uma explosão
você me fitou por um segundo
me desconcertou, me descarrilhou
me deu um motivo num sorriso
e meu peito quase perdeu o juízo
errei a letra da canção
quando tentei cantarolar para você
mas já era tarde, era em vão
seus braços já tinham outros sons.