sexta-feira, 30 de abril de 2010


Os oceanos levam longe meu canto
num silêncio que eu mesmo escolhi.
Onde barcos ancoram prantos
deixo os meus sonhos juvenis.
Me afasto em ondas, num sorriso
e deixo a saudade para trás.
Minha âncora não é mais robusta
nem tampouco me afunda em ais.
A brisa bate, me deixa sóbrio
lembro de um dia de paz.
E meu barco agora, pra onde vai?
Deixei as velas lá no cais.

segunda-feira, 26 de abril de 2010


As roupas no varal dançam com o vento leve da primavera
as nuvens brancas se aconchegam no céu azul anil
os pássaros brincam de se esconder por entre as árvores verdejantes
os pomares estão carregados de frutos maduros e adocicados
as janelas fecharam, trazendo notícias de corvos e larvas
os marcos das portas me encaram silenciosos, pedindo que eu não me vá
meu rosto apanha as lágrimas que derramei ontem
meus pés se cobrem de barro seco da estrada de terra vermelha
minhas mãos tentam, em vão, tampar o buraco aberto em meu peito
meu corpo se desfaz, devagar, em álcool e sonhos
não há como voltar atrás do futuro agora.

Levantou-se muro repentinamente,
pedras lisas incrustradas na rudeza da parede,
salto e não vejo o outro lado,
meus pés tornaram-se pequenos,
percebo uma fissura, curta e escura,
meu olho insiste calmamente em penetrá-la,
forma-se uma imagem densa, opaca e disforme,
meu dautonismo diário é forçado, enxergo torto,
a névoa se dissipa e se despe para mim,
me vejo em terno cinza chumbo,
na mão esquerda carrego um cadeado dourado
e na direita uma pedra de carvão.

A luz transpassa a janela,
engole as cortinas
e vence o ar carregado de incertezas,
ela corta a noite fria e úmida
como uma faca
a cortar meus pulsos elétricos.

Ventos do norte que balançam os galhos,
tragam de volta meu canto de pardal
e façam minha voz ecoar por entre o montes
e despir as ondas do mar de gelo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010


Minhas janelas estavam fechadas

Minhas mãos eram o deserto

Nada de caminhar para longe da superfície

Nenhum botão de flor ousava abrir perante meus olhos

A chuva era sempre fria e áspera

E meu corpo era só inverno no meio do mar

todos os locais lodosos estavam ao meu redor.

Mas algo fez cintilar no meio da noite cinza

Mofo e bolor reavivaram minha memória

O sol lutava por entre nuvens de sal

Em meu peito explodia sons em cetim dourado

Minhas pernas provocavam marremotos

Meu sangue roborizava minha face

O brilho de uma aurora surgiu em meu sexo

Meu corpo inteiro agora virara luxúria

E meu soriso traduzia minha alma

Um leve pardal pousou em mim

E cantou vida em meus rotos ouvidos

Estava novamente seco e febril

E com fome de todo o amanhã.

terça-feira, 6 de abril de 2010


A chuva veio
passeou pelo meu rosto
deixou o passado em poças.
Lambe meus pés
para que este não se afunde
no lodo verde vil.
Punhais e rotas verdades.
Tentativas de se manchar
o altar com sangue impuro.
Tempo circulante.
Destino de ouro e sombra.
Presente de olhos semi abertos
e felicidade morena.
Fogo ardente no mar,
desejos antigos sem ancora.
Vestes claras sem sal.
O dia raia um sol imenso.
Chegou a hora de findar caminhos.
Comer pêssegos e maracujás.
Dormir e não acordar,
pois sonhos dourados são maciços.