quarta-feira, 28 de junho de 2017


A fumaça latente sobre meus olhos
Minha visão turva em infinitos mistérios
Nada pode mais me alcançar pelo caminho
Os espinhos todos já cortaram minha pele
Eu matei cada pedaço que crescia em mim
É seco meu apodrecido coração roubado
Os corvos preenchem o céu escarlate
Musgos a recobrir minhas mãos
Me consumo na sede do sofrer
O que posso me tornar agora?
A realidade fugiu apressada
Só ficou a memória de uma perdição
Todas as armas foram disparadas
Nenhuma ilusão doce sobreviveu
Sobrou o amargo sabor do veneno
E a delicadeza dos cacos de vidros pelo chão
A cova rasa que eu mesmo cavei
É muito grande para meu atrofiado corpo
Mas cabe toda tristeza do meu ser
Selvagens vermes venham me comer
Pois de mim nenhuma flor vai nascer.

quarta-feira, 7 de junho de 2017


Eu pensei que me via por aí
Que as cores me cobriam
Que os sonhos eram meus
Que nenhuma nuvem me encarava
Eu imaginava o próximo respiro
Que todo o mar era verde
Que os pecados se dissolviam
Que a poeira nunca iria chegar
Eu achava que o dia era longo
Que a subida era situante
Que as horas sussurravam
Que o espinho adormecia
Então agora
Eu fico apenas olhando
Numa direção lunar
Eu fico apenas olhando
Por onde vou me deitar
Eu fico apenas olhando
Todos os sons do ar,

domingo, 4 de junho de 2017


Todo o silêncio depois da chuva
Carrega aquilo que escondi
Malas desarrumadas pelo chão
Uma garrafa de vinho
Meus bolsos todos vazios
A luz neon piscando
Da janela embaçada
Pela fumaça do último cigarro
As gotas seguem deslizando
Atingindo a calçada
Da rua vazia e solidária
O canto escuro do quarto
A sombra da cama desarrumada
Cortinas encardidas dançam
Pelo ar da noite
A lua rompendo a escuridão
Meu paletó desabotoado
Um comprimido para dor
Flores mortas no jarro de plástico
O livro marcado na página final.