sexta-feira, 17 de julho de 2020

Eu não sabia o caminho até aqui
Vim conduzido pelo brilho dos teus olhos
Eu não me lembrava do meu último sorriso
Então foi só ver teu rosto e lembrei
E eu pensei em tantas coisas boas
Antes das estrelas terem caído do céu
Mas agora que estou aqui
A noite ainda se faz fria
Entre e feche a janela
O sol já deve estar pra nascer
Perto da lareira há um cobertor
Tente se manter quente e seguro
Todas as palavras me foram embora
Só sobrou um pouco daquele som
Do teu abraço antes de partir
Um instante e meu corpo está em fogo
E eu já não sei mais o que fazer
Eu nunca quis te ver de novo
Mas nada mais parecia certo
Então corri para onde teus braços estariam
Uma canção de ninar tocou
Esse foi meu pedido de perdão
Então entre e feche a porta
Está um pouco frio lá fora
Deixe-me sentar ao teu lado
Prometo te aquecer e cuidar
Vamos tomar uma xícara de chá
Escutar tudo que pode chegar
E nunca esquecer de nos beijar

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Vida em pausa
Desacelerada
Tempo congelado do outro lado da janela
Música lenta
Dança solitária
Não há como fazer um corte no tempo
Editar o momento
Arrancá-lo para fora da fita
Viramos coadjuvantes
Sombras e sussurros
Via que finda em um cruzamento
Vida e morte, dadas as mãos
A solidão já estava aqui
Não estávamos aqui
Fomos reconduzidos a realidade
Mas quando seremos tangíveis de novo?
Uma guerra terminada e outra pra recomeçar
Nós dois aqui no escuro sem ter onde tocar
Os carros andam mais rápidos que o amanhã
Nós dormimos depois de provarmos da maçã
Que deus afaste toda a lama entre nossos pés
Nós afundados num rio de pecados marciais
Da árvore no fundo do quintal brota incertezas
E nós num momento de mãos entrelaçadas
Há muito barulho nas placas pela estrada
Nós andamos pelo campo como bons cordeiros
Vozes gigantes comandando o bater de asas
Quem de nós segue a coruja pela noite adentro
Terras de várias cores se formando em cinza
Nós com sede nesses vales de esmeraldas
Sombras sobre as estações de trem ao amanhecer
Nós damos de costas para o entardecer
Tijolos empilhados sobre as muralhas de ontem
Nós não aprendemos a subir as montanhas
Agora toda luz é capaz de cegar quem a toca
Nós já perdemos nossa alma ao nascer
Não se envelhece com o tempo
Normalmente não funciona desse jeito
Vivemos sempre algo que nos transforma
Agregamos várias experiências
Nos permitimos ir e vir no agora
Não ficamos velhos com o passar da idade
Ficamos cheios de histórias e sentimentos
Aglomeramos informações e lembranças
Passamos e somos transpassados por pessoas
Somos personagens de algumas histórias
Em outras só fazemos figuração
Mas no fim de tudo que nós há
Temos nossa própria colcha de retalhos
Alguns tecidos coloridos, outros desbotados
Rasgos e marcas que nos permitem viver
E dizer, este é o meu tempo, eu sou o agora.
Quantas pessoas você desconheceu hoje?
Quanto tempo passou e você não o viu?
Qual sentimento você irá se privar de sentir?
Qual é a resposta à pergunta que nunca fez?
Que palavra veio a sua mente enquanto dormia?
Que hora você irá decidir trair a si mesmo?
Quando será o momento que se permitirá viver?
Quando sentirá que está entre o céu e a terra

sábado, 20 de junho de 2020

Será que vemos as mesmas estrelas ao olharmos para o céu?
O brilho ao redor de nossos corpos se misturam na cama?
Nossa febre percorre os mesmos caminhos os quais nos escondemos?
O cheiro que exalamos ainda é o mesmo de quando nos beijamos?
Quem guardará para nós aquela xícara de café requentado?
O animal que nos habita está cansado de caçar e virou caça?
Qual seria o caminho mais vazio que poderíamos seguir ao nascer do sol?
O que sobrará ao final quando tudo já for dito entre nós?

sábado, 13 de junho de 2020

Já somos velhos o bastante para nos cuidarmos
E jovens o suficiente para nos saborearmos
Qualquer tempo junto é o que importa
Sorrisos cortam alegremente o ar
Não precisamos parecer com ninguém
Ainda que todos sejam iguais a nós
Levemos nossos pés para fora do concreto
E dancemos sempre no meio do salão
Somos crianças correndo pela vida
Despreparados para sentir qualquer dor
Sempre haverá algo forçando a nos separar
Mas o band-aid só sairá quando um de nós puxar.