quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Eu saberia um pouco mais de mim
se conhecesse mais de ti
mas meus olhos não alcançaram o horizonte
se perderam antes de vislumbrar azuis
mas me acalmo ante o sol que nasce
trazendo consigo a luz que é sua
minha pele então febril desperta
lançando-se em mil direções sem fim
procurando pelos olhos onde me encontrarei
onde pretendo fazer morada eterna
e só serei sonho de conto de fadas
mas a tarde vem, mansamente por trás de mim
e me lembra num relâmpago fulminante
toda árvore precisa de ter ao menos uma raiz.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010


Mas é que eu vou falar
mas é pra ninguém escutar
as frases e orações serão só minhas
não é pra mais ninguém
então não preste atenção
vá pela contra mão
abuse das flores no jardim
mas tire os olhos de mim
é que me senti poeta hoje
até quis me dividir
mas me bateu um rompante
e por hora fiquei aqui
então numa nota só
nasceu e morreu em mim
algumas sílabas soltas
num pedaço de carmim
que diziam a passos lentos
sobre o céu, o vento e o mar
e meu navio que afundava
em pleno solo a gritar
e do cinza dos dias
brotou ali assim
como uma piada de sombras
uma palavra sem fim
virou quase um poema
se não fosse um dilema
terá nascido de mim?
agora o sol já se vai lá fora
mas ainda pulsa algo aqui
e me fere a alma esquálida
trocando toda a metáfora
saindo assim de mim
era esse meu medo
que tudo fosse embora enfim
e nada sobrasse pra ti.

terça-feira, 21 de setembro de 2010


Nada mais há pra ser escrito
minhas linhas em branco dirão mais
sobre mim não repousa mais nenhuma palavra
já vomitei todo meu ser sobre papel
e o que aconteceu?
Desejos de sangue disfarçados
frases planejadas para me entorpecer
para enganar meus sonhos
fantasia dourada já empoeirada.
Esqueçam das belezas das palavras
verdades sujas surtem mais efeito
colida sua boca com meus ouvidos
assim uma chance terá
de que eu possa me fazer enganar
sobre todos vós.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Fome negra que seca meu coração
afasta as mãos indolentes fechadas
e derrama em mim todo o sal e azeite.
Desperta perguntas em vão
que não se respondem no colchão
e nem completam nenhuma questão.
Meu corpo urge de fé carnal
sem absolvições e borrachas
só prazer real e gratuito.
Corre, cresce em mim
nada além de sombras no jardim,
cristais lapidados em ti.

sábado, 18 de setembro de 2010


Em qual parte a febre arde
arde em mil, num ardil
que minha própria carne fez
e circula a criatura diante olhos meus
move-se calmamente em minha direção
e faz assim, um pequeno tchbum
dentro dos meus sonhos

Pelas ruas onde passam sonhos
encontro páginas de jornal rasgadas
manchetes que gritam pelos arranha-céus
eu já não sei o que fazer, o que dizer


Estou perdido em pleno ar
nenhuma esquina me condenará
somente um rastro verde vem chamar
e os meus pés a se cansar, a se delatar


Mas o que fazer nesta cidade
não encontro quem amo
e perco minha alma


Entre concretos e estrelas
meu coração se desprende
quero alcançar os seus olhos, os seus beijos


Me imagino em cada lugar
meus desejos já estão a perguntar
por que eu vim? Para que ficar?
Não será melhor me ausentar?


As respostas não encontro nas vitrines
nem nas avenidas viram meu lar
permaneço num banco de praça
esperando você passar e me levar


Esta cidade é tão grande
há muitos becos e pouco horizonte
mas eu não me canso
hei de um dia lhe encontrar


Mesmo que a eternidade se vá
algo diz, mesmo assim,
uma hora você vai chegar
e vamos nos cruzar num olhar


Então de repente a noite chega
a cidade se acende em mil
há tantos corpos em copos nus
e sei que está em algum bar


Agora a cidade é eterna
e a noite tão bela
pois sua presença aqui está


Me sinto finalmente livre
não há mais muros a derrubar
e a chuva cai em horas belas


Você foi feito num sopro
meus desejos se ardem
vão se realizar, mesmo sem mar


Mas se não fosse esta cidade
somente em sonhos
eu poderia lhe achar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010


Se teus passos não deixarem mais rastros
me procure na poesia do amanhecer
e em meus braços te farei adormecer
Se tuas lágrimas não chegam a tocar o chão
veja se estou em alguma estrela do mar
e em meu peito poderá se alojar
E quando você não souber mais o que é
lembre-se que existem flores
e estou sempre a seu lado a lhe embalar
Mas se algum dia não conseguires abrir os olhos
acalme-se, pois o sol também não enxerga toda terra
mas posso lhe guiar através das incertezas do ar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


Quando você me ver

não me coloque entre palavras

atinja meus olhos com verdades

abra meu peito no grito

não finja que nossos lábios secaram

tire nossas roupas de cor

e jogue-se comigo no luar

façamos o que mandam os filmes

não olhemos para trás

derrubemos as louças e os cristais

e só paremos depois do carnaval.

sábado, 11 de setembro de 2010


Estou sussurando por você

com seus braços fortes

venha, seduza-me

me jogue pra cima

faça com que minha pele queime.

Eu estou chamando por você

me atenda então

deslize pelo meu corpo

deite-me no chão

me tranque em seu peito.

Eu estou clamando por você

deixe-me andar dentro de ti

permita me ligar a você

abra-se para mim, vamos ser só um.

Eu estou gritando por você

ao te deixar em febre

unindo nossas peles

multiplicando nossos lábios

entoando uma única canção.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010


Não ultrapasse a faixa

há um limite para nós

uma linha mesmo fina

pode significar coisas demais.

O vento pode ser suave

mas traz mais do que o ar

esconde odores e névoas

que embriagam os temporais.

Não lance um olhar para trás

nem tente em sombras entrar

aquilo que foi dito já se revela

e iça todas as mentiras de eras.

Tange o sol por trás dos montes

e sua testa não se desfaz

tampouco seu coração roto

que não luta mais.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010


Hoje é quinta-feira e a noite já se foi,

nada sinto além do ar azedo do cais

publico frases de neon vermelho em minha alma

lentes de aumento pelo caminho para me enxergar.

Minhas mãos em carne putrefata insistem em segurar,

não deixar o sol se pôr, morrer ao mar.

E dói, mas não sangra, pois o pulsar ficou pra trás.

A ilusão tomou conta de toda luz

a verdade se refaz entre entraves

mas meus ais, estes vão em paz.