domingo, 28 de fevereiro de 2010


Em tua casa entrei
me apossei do corredor
fiz dele meu lar.
Caminhei por vezes
lentamente, como o ar,
noutras eu corria
cegamente, como se eu
fosse saltar.
Em momentos de luar
as vezes eu ficava lá parado,
deixando você me observar.
No calor das horas
você me dominava
me fazia entrar em seus aposentos
depois me expulsava
trazia de volta
me segurava sem me abraçar
e por fim olhando pela janela,
esperávamos o rio passar.

sábado, 27 de fevereiro de 2010


Meu corpo só diz uma verdade
que fala através do meu suor
quando escorre sobre seu corpo
e entra pelo teu sexo.
Me escondo em ti
e tento descobrir teus segredos
que guardas do mundo
suave e lentamente.
Brinco de esconde-esconde
nas tuas coxas grossas
como se fosse possível
fugir do teu venenoso sabor.
Pereço entre teus braços
como pluma faz ao tocar o solo
argiloso e erosivo
e enraizo-me na tua aurora.

Ninguém vai manchar


meus olhos culposos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Já que lhe dei as costas

por quê não aproveitastes

era oportunidade perfeita

eu nem sentiria a lâmina

poderia ter sido rápido

pouco sangue teria derramado

manchado o carpete

mas você vacilou

um instante e nada aconteceu

você deixou que eu me fosse

que fechasse a porta

nem sequer fez um ruído

não quis que eu olhasse

que meu rosto se virasse

não quis ver minhas lágrimas

de adeus.

Ausento-me de ti
ausento-me de nós
ausento-me do mundo
ausento-me da vida que poderia ter
ausento-me de mim
por não mais poder me ausentar de ser.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


Algumas pessoas têm
a morte ao seu lado
convivem com seus fantasmas
sempre em ronda.
Não se importam com a carne
podre e seca
que recobre sua alma.
Nem o cheiro fétido
consegue as incomodar.
Afinal, elas só conhecem a automação
a repetição constante
os sinais fechados
e as palavras cruzadas.
Não há pulsação nas veias delas
não corre o sangue vermelho
só brita e cal.
Mas nem é culpa deles
é a outrora realizando
sua história amarga.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


A silenciosa manhã
traz flores cinzentas
que coloco em água morna
no jarro em cima da lareira.
A gélida tarde
não tem cheiro
nem fumaça delirante
tem só o sol enquadrado na parede.
A noite clara
faz-se rufar sob o lençol
de cetim cardíaco.
A madrugada ligeira
carrega meu sono
meus anseios em fios
e tecem meus olhos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


Dorme a madrugada em mim
e danço com meus pés descalços
por entre os desejos e a realidade.
Acorda vaga-lume
acorda lentamente pela manhã
e voa longe me levando.
Me carrega por sobre os oceanos
me despeja no mar
pra uma ostra eu encontrar,
fazer minha nova morada
até o sereno chegar.

Eu gostaria só de um beijo teu,
mas nem posso pedir nada agora
depois que a chuva passou
e levou minhas roupas brancas.
Minhas samambaias na varanda
viram tudo e nada fizeram,
só se puseram a chorar.
A porta ficou fechada,
trancado do lado de dentro,
brincando de carnaval.
Mas a luz apareceu
mostrou minhas sombras
num tom carmim.
Nem adiantava correr
porque nenhuma palavra
seria rápida pra alcançar.
Nenhum sentido ficou vivo,
a terra deixou de ser fofa.
Meu caminhar agora é estático
velado na solidão.

domingo, 21 de fevereiro de 2010


Diante do espelho
O que está refletido?
Na realidade
O reflexo está de que lado afinal?

sábado, 20 de fevereiro de 2010


O sabor que sente, sou eu.
Sou eu que caminho,
que ergo paredes,
e cubro teu corpo.
É meu cheiro em teus lençóis
despidos de jasmim.
Suas vestes são teus poros abertos,
que absorvem meu toque.
Minha ancora prendeu-se
nos contornos da tua nau.
Terremotos e ciclones se anunciam.
Os ponteiros param as 9h45.
Gota a gota nos desfazemos
e o pó nos recobre eternamente.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Sou um estranho,
não é a sensação da solidão
que me faz assim.
Não é a falta de asas,
nem tampouco
o que me resta de mágoa.
Talvez seja só o momento
que me faz assim.
Ou quem sabe
é assim que eu deva ser.
Pouco importa agora,
já se desataram os nós.
Já durmo em cacos e pregos.
Me alimento de folhas secas.
Respiro ferrugens.
Vejo minha sombra caminhando.
E faço um pedido,
posso lhe acompanhar?

Por que está tão frio dentro do meu peito?
Por que tenho mãos vermelhas?
Por que meus olhos permanecem manchados?
Por que insisto em perguntas que só fazem sentido para mim?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


Que percorre meu rosto hoje?
Sabor agridoce,
viscoso,
manchado de sangue.
O que carrego em minhas mãos?
Nuvens de éter,
borbulhas da água do lago.
Por onde vão minhas pernas?
Pedras, asfalto não vejo,
meus pés estão descalços,
cacos de vidro e perfume.
Já estou sem pés e mãos,
sem asas e desejos,
vou esperar o outono chegar.

Debato-me contra as paredes
Para livrar-me da dor
Entre uma batida e outra
Acabo por livrar-me de mim.

Não sei escrever,
o que escrevo acabo apagando.
Meu papel continua em branco.
As palavras se calam, mesmo ao gritar.
Elas não possuem força,
são como hidrogênio e mercúrio.
Me falta pó para elas,
para que ganhem saber.
Elas não traduzem um sorriso,
elas não explicam a dor,
elas só carregam o que sou.

Vem de toda parte
vem da relva,
vem do meio do ar,
vem esfumaçante,
vem brilhar,
gota a gota vem brotar.
Vem para ser eu/outro e eu/mesmo,
vem a não ser,
vem ficar,
vem fugir,
vem calar,
vem do mais alto pedestal,
vem submisso,
vem submerso,
vem total,
vem parcial,
vem aos poucos mas acaba por chegar,
vem enrubescer,
vem rejuvenescer,
vem e faz chorar,
vem desarrumar,
vem em formas sáficas,
vem do peito de Davi,
vem torto,
vem morto,
vem sujo,
vem leve,
vem aos montes,
vem sadomizar,
vem gatuno,
vem e vai e volta,
vem sólido,
vem grotesco,
vem sem direção,
vem com tempero,
vem com orgulho,
vem em protesto,
vem frear,
não vem,
demora pra chegar,
vem maternal,
vem em forma de aplauso,
vem com beijo,
vem em trejeitos,
vem mascarado,
vem enlatado,
vem diabolicamente afável,
vem e deixa ser.

Escrevo muitas coisas
acabo por apagar outras tantas
mas sempre permaneço
com um lápis na mão,
porque existem linhas
na minha frente,
este espaço branco
que me chama,
insiste em que eu me alimente dele
pra que depois eu vomite
palavras e desejos,
cores e emoções,
revés e coração.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010


Eu corro atrás com
minhas pernas tortas.
Pisco os olhos
num segundo lento.
Seguro as águas com
minhas diminutas mãos.
Oxigeno meus pulmões,
minha respiração aguda.
Saboreio a manhãs,
pois a noite é de dormir.
Engulo saliva quente
já que minha água secou.
Banho-me de tarde
onde as águas se fazem mornas.
Em pé se faz o homem,
mas é horizontalmente
que surgem os sonhos.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


Sussurrando em teu ouvido:
Você é aquele que me dá força, esperança e redenção.
Faz meu dia ter graça, ser suave e completo.
Traz o alimento pra minha alma
e faz-me bendito toda hora que meus olhos se abrem.
Falando para o vento:
Oh amado meu,
eu sinceramente me sinto arrebatado
pelos braços teus.
Eu só sei te amar desde que te vi,
me apaixonei pelo teu jeito,
mas principalmente, porque
tua alma se faz linda.
Oh amado meu,
tu és merecedor de todo meu amor,
eu não consigo encontrar palavras
para confessar tudo que sinto por ti.
Nenhuma é tão bela quanto você,
que transformou minha vida
e me fez olhar para o horizonte.
Oh amado meu,
meu coração não se arrepende,
mesmo com todas as adversidades,
com todas falhas de conexão,
porque é puro o que sinto,
porque é grande e forte.
Amado meu,
como eu lhe quero bem.
Quero poder lhe beijar.
Quero te afagar.
Quero te deitar em meu peito
e velar teu sono.
Quero ser merecedor de todo seu amor.
Eu te amo.
Eu te amo.
Eu te amo.
Eu te amo.
Eu só tenho uma pergunta.
Eu só tenho uma questão.
O que mais desejo é,
posso lhe fazer feliz?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


A dor comprime a voz
que jorrava lágrimas
pela boca vermelha.
O céu azul está sujo,
nuvens carregadas
comprimem o borrão amarelo.
Vasa sangue pelo meu peito
não adianta tampar o rombo
minhas mãos são pequenas.
O verde do mar
se coloca diante de mim,
me chama friamente.
Já não há forças nos membros
mas me encontro no fundo do oceano.
Meus olhos essa altura
já estão cerrados
na espera que na falta de ar
eu possa acordar
e mirar novas trilhas.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


Na duvida, atire.
Na certeza, conclua.
Na contramão, afague.
Na sua direção, reaja.
Na mira do olhar, sinta.
Na busca do prazer, seja.
Na lua minguante, esteja.
No orvalho das horas, escureça.
No som da manhã, festeje.
No silêncio do lago, nada.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


Nenhuma palavra me pertence,
me faço no silêncio,
nas sobras da noite.
Me moldo por entre figuras
cacofônicas e empedradas.
Forma-se em mim veias e artérias
que correm sal e éter,
que vão descendo até meus pés,
fincados no chão, nas sombras
que eu mesmo faço em mim.
Minha boca é caatinga
e só vocifera falsos açudes.
Não tenho mãos,
pois perdi os desejos.
Meu rosto é névoa densa
meus olhos jazem.
Abotoado está meu peito
que fecha-se com uma gravata
da cor da tempestade.
Nada mais procria em mim
só há mitose.

domingo, 7 de fevereiro de 2010


Não há lugar em mim
que valha os acordes de uma valsa,
que saltitem os pássaros,
que corram os mares,
que ilumine a ínfima estrela,
que desça o orvalho da manhã,
que zumbam os zangões,
que amadureçam os cinzas,
que dobrem os sinos,
que finda a lua,
que arranhe os discos,
que imaginem as nuvens,
que fique muda a escuridão,
que apague os versos
desta canção.

Como posso brilhar
já que espero a luz da primavera
e me caem folhas no outono.

Pintou-me de vermelho
Te seduzi
Pintei-te de azul
Para te florir
Beijou-me na boca
Retribuí
Afaguei teu rosto
Te vi sorrir
Jogou-se em meus braços
Me iludi
Vi você partindo
E não me despedi.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Não encante o mundo
nem encante-se com aquilo
que ele pode lhe oferecer.
Encante as serpentes
da cabeleira da medusa
e os olhos do louco
que te consome.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010


É minha a escuridão,
o odor dos esgotos,
o mal que come os mortos,
as velas queimadas,
e a besta que caminha mancando.
O verme que anda a noite,
se infiltra em mim,
caminha por entre veias,
gera a dor e agonia
que pacientemente me alegra.
Toma-me por inteiro,
cola os cacos que me tornei,
apaga minha história,
faz meu corpo vermelho pulsar
me presenteia com pânico e plumas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


Será difícil resistir
a tentação do salto,
da queda ao chão
é um segundo relâmpago.
As janelas passando
à sua frente,
algumas abertas,
outras fechadas,
umas observando paradas,
outras assustando as cortinas
e o chão ríspido
esperando beijar o corpo
e manchar a boca
com o resto do sangue.

Sugue meu doce veneno
E morra!
Morra de prazer e emoção
Pois é tudo que lhe darei,
Hoje!