terça-feira, 28 de maio de 2019

As nuvens brancas no céu
As paredes brancas do museu
As casas de muros brancos com cacos de vidro
As folhas brancas escritas
As telas brancas que recebem a tinta
O pão branco que nos alimenta
O prato de louça branca servido a mesa
O iceberg que distraí navios
A casca do ovo branco que trouxe vida
O vestido de cauda da noiva no altar
A luz que inunda a sala de estar
O gesso que conserta seu corpo torto
A rendição em uma bandeira
Os ossos espalhados no caixão
A idade que os cabelos carregam
A camisa branca do negro, manchada de vermelho.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Se cheguei até aqui
Por que devo retornar?
Venha logo senhor dos sonhos
Me devore noite adentro
Com suas pernas altas
E suas mãos amarelas felpudas
Me abrace até me quebrar
Jogue o que sobrar para cima
Faça seus jogos sujos
Deite seu corpo no meu lugar
Agora é hora de rastejar
Ouvir o temor da teia de aranha
Imaginar o voo rasteiro do besouro
Fechar minha boca mordida
Pesadelos assombram o lençol
Uivos sobre os travesseiros
Minha condenação a galope.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Eu escrevo sobre águas e pérolas
Que se confundem com cristais
Dos seus olhos mais azuis
Que me congelam os pés
No fundo da dúvida
De não saber te encontrar.
Mesmo a deriva do teu corpo
Sinto o cheiro de chuva
Que passa pelo teu sexo
Ao encontro do aço maleável
Que toma suas mãos
Desesperadamente ásperas.
Conduz tua respiração corroída
Pelos canos enferrujados
Até a superfície da dor
Tire a capa que me protege
Veja meu rosto sangrar
E diga que foi tarde demais.

sábado, 11 de maio de 2019

Para onde irei
Qual rio devo seguir
Todos levam ao oceano
Mas não quero me afogar
Nadar contra não é opção
A correnteza é forte demais
Nenhuma margem é segura
A água está gelada
Turva-se diante de mim
Os peixes se recolhem
Então eu abro meu peito
E deixo o rio correr dentro de mim.