sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Teus olhos tão céu
Meus olhos não estão
Tua boca de suave mel
Minha boca com fome de pão
Tuas mãos só ternura
Minhas mãos de dor de carvão
Tuas pernas de fortaleza
Minhas pernas correm em vão
Teu corpo abrigo amigo
Meu corpo de eterno cão
Teu coração de brigadeiro
Meu coração desalojado pelo não.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Percorro estradas asfaltadas com pedras pontudas
Correndo sempre na direção da tragédia
Meu lar dos últimos invernos
E a música da morte preenche todo o peito
Mas como beijar aquilo que se repele
Estando com as mãos atadas nas costas
E a cabeça presa nos grilhões da dor

Vejo ao longe fagulha de algo que nasceu
Para fora de onde deveria estar
Mas não me permite lhe tocar
Por que me consideras tão suspeito
Ou até mesmo já condenado a não alcançar
Aquilo que um dia já esteve ao redor
E meus ouvidos puderam escutar

O que devo fazer para não perecer assim
Cercado por mim mesmo e nada mais
Sem que a luz queime meus olhos
E que a dança prometida para mim
Não se desfaça num vulto qualquer
Do voo dos pombos sobre as igrejas
Construídas em meu peito vazio