domingo, 4 de setembro de 2011


Tudo que me cerca: água
Tudo que me aquece: vento
Tudo que me toca: chão
Tudo que me revela: imensidão

Um comentário:

  1. As potencialidades da natureza tomadas como elementos de referência de um ponto de vista em que toda a cultura construída é irrelevante, inexistente pois, no entorno,apenas os elementos naturais servem de paradigma. Interessante notar que água e vento são forças poéticas, líricas,mas que ao mesmo tempo são fugazes, na medida em que não servem de apoio, não têm a consistência para servir de abrigo, são movediças forças que oscilam e que até podem, ao contrário da suposta sugestão lírica, ser agentes de destruição e pertubação quando furiosos. Logo, fica a impressão também de um inesperado, de elementos que tanto podem trazer benesse quanto a tragédia. O único elemento de respaudo, apoio, segurança, talvez fosse o chão. Contudo, há que se lembrar que o chão pode se abalar, se abrir, tremer etc. Tudo que cerca o "eu lírico" é instável, imprevisível, também o que aquece é o vento volúvel, imprevisível e o que toca é um chão palpável, mas também, a rigor, imprevisível.Mas, a grandiosidade do desfecho revela a identificação do eu lírico com a imensidão onde tudo se espraia, se espalha, se perde, se agiganta para além de quaisquer forças naturais. O eu lírico é a própria imensidão indevassável, misteriosa, indizível, fronteira para além do além. Um desfecho inesperado, surpreendente e aniquilador. A imensidão é o tudo e o nada pelo seu próprio caráter de perceptível, contudo inalcançável.Perpassa em tudo uma sensação existencialista de impotência do ser perante ao que o circunda e perplexidade perante a grandeza de tudo, inclusive de si mesmo. Um estar deslocado perante todas as grandezas a espera de algo inconcebível, maior que tudo e todos. Excelente! Parabéns.

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