domingo, 13 de fevereiro de 2011



Um gancho em minhas costas
dez reais é o quilo da carne
a faca cega
onde dói o corte?
Mãos que passam levam ao pó
paralisado em plena pulsação
não há madeira
jaz se fez tua vocação.
Fica com tua morada de ilusão
que assim não teces mais sofreguidão
enganas somente minha mão
devorando meu colchão.
Ainda afirmas que és capaz
mas desdém dos espelhos
refletindo sempre a mesma
interjeição.

Um comentário:

  1. Interessante poder aplicar à palavra "cega",verso terceiro,uma dupla classificação de classe: "cega" - adjetivo ou, quem sabe, "cega" do verbo cegar. Acrescenta e enriquece a semântica do poema.
    A ideia da faca que não corta ( adjetivo ) ou que extermina a visão ( verbo ), faca que nega sua função ( cortar ) ou faca que age como instrumento de extermínio da visão.
    Um corte em que não se sabe ou não se vê exatamente a localização da dor:"onde dói?"
    Instrumentos de dilaceramento nas metáforas do gancho, da faca, das "mãos que levam ao pó",o engano e a ilusão e por fim o desdém.Elementos que se interligam numa associação de ideias que remetem a um universo decadente, doloroso, desarticulado com a felicidade e assombrado na interjeição, "sempre a mesma interjeição", de mundos perplexos. Gostei do poema, diria mais mas o comentário tem que acabar...Rsrsrs...

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